Falta de cuidado pode ter inutilizado prova encontrada na cena do crime do caso Marielle, diz PF

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Documento da Polícia Federal afirma que cápsulas recolhidas no local do crime não foram tratadas com o devido cuidado. Exame de confronto balístico também passa por demora.

Uma pista importante para chegar aos assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes pode ter sido perdida ao longo do inquérito, segundo a Polícia Federal. Tratam-se das cápsulas que foram recolhidas na cena do crime no dia 14 de março do ano passado, quando ocorreram as mortes.

Questionada pela GloboNews sobre possíveis erros na investigação, a Secretaria de Estado de Polícia Civil disse que mantém o sigilo do inquérito referente ao caso das mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes para preservar as investigações.

Os estojos, que são o lugar onde a pólvora é armazenada para o disparo, chegaram a ser examinadas pela Polícia Civil do Rio.

Em um ofício enviado à Polícia Federal no mês passado, o juiz responsável pelo processo contra o policial militar reforçado Ronnie Lessa e pelo ex-PM Élcio de Queiroz, presos desde março, questiona se é possível afirmar que as digitais identificadas colhidas no local do crime poderiam ter sido contaminadas por fatores externos, de forma que a conclusão do exame de impressões digitais pudesse ter sido alterada.

A resposta da Polícia Federal é que sim, ou seja, as cápsulas não foram tratadas com cuidado por quem as recolheu no dia e local do crime. Das nove cápsulas periciadas, os policiais encontraram fragmentos de impressões digitais em apenas uma.

A PF diz ainda que “os estojos passaram por algum exame prévio”, já que eles foram marcados com caneta verde para indicar o código de lote de cada estojo. O exame do estojo em que foi encontrado um fragmento de impressão digital “revela ausência de cristais papilares nos locais marcados com caneta”. Isso, de acordo com a Polícia Federal, indica que a caneta verde “apagou” uma parte do fragmento.

De acordo com a identificação do lote das balas, UZZ-18, foi possível saber que ele tinha 1,859 milhão de balas e foi vendido para a Polícia Federal em 2006. Só a Superintendência da PF no Rio recebeu 200 mil balas.

Ainda de acordo com a PF, “a própria forma de manipulação dos estojos, se não for feita com extremo cuidado a partir do uso de pinças poderia danificar ou apagar as digitais”.

O documento ainda conta que o fato de os cartuchos estarem dentro de um único saco pode prejudicar a preservação das evidências durante o transporte por causa do “atrito entre os estojos”.

Desta maneira, o chefe do Núcleo de Identificação da Polícia Federal concluiu a inutilização da prova.

“O que podemos afirmar categoricamente é que, independente de como e quando foi depositado, o fragmento revelado tem elementos suficientes para permitir um confronto negativo com os suspeitos apresentados”, destacou no documento.

O relatório enviado ao juiz diz ainda que a impressão digital não necessariamente pertence a quem fez os disparos que mataram Marielle e Anderson, e que a marca pode ter sido produzida por uma falha na hora de recolher a prova ou até por uma manipulação nas cápsulas.

Por fim, o documento conclui que, apesar de ter dado negativo para os suspeitos do crime, isso não eliminaria a possibilidade deles serem os autores dos disparos.

Em outro documento do mesmo processo, a Polícia Federal expõe a demora de cinco meses da Polícia Civil para mandar as balas e os estojos recolhidos no local do crime para o exame de confronto balístico. O objetivo desse exame nas submetralhadoras da PF é descobrir se os tiros partiram de uma dessas armas. Até hoje, a arma usada pelos criminosos não foi encontrada.

Em outubro do ano passado, o delegado Giniton Lages, então responsável pela investigação, pediu à Polícia Federal uma perícia em todas as submetralhadoras MP5, calibre 9mm, que pertenciam à PF no Rio. No último dia 15 de março, o juiz do caso pediu o laudo com o resultado dessa perícia.

A resposta veio 13 dias depois. O superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, afirmou que “o laudo solicitado ainda não foi produzido, uma vez que a Polícia Federal precisa das balas e dos estojos encontrados no local do crime”.

O superintendente afirma ainda que “até o momento, esse material ainda não foi encaminhado pela Polícia Civil.

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/04/15/falta-de-cuidado-pode-ter-inutilizado-prova-encontrada-na-cena-do-crime-do-caso-marielle-diz-pf.ghtml