Alanis Morissette e a força de ‘Jagged Little Pill’: o que você talvez não saiba sobre este clássico

0
30


No show que fará em São Paulo na terça-feira (14), cantora canadense deve incluir no setlist todas as música do disco que vendeu mais de 33 milhões de cópias. Alanis Morissette no clipe de ‘Head over Feet’, lançado em 1996 e um dos hits de ‘Jagged Little Pill’
Reprodução
Alanis Morissette tinha 21 anos quando apareceu fazendo pop rock cheio de raiva e peso. Lançado em 1995, “Jagged Little Pill” já vendeu mais de 33 milhões de cópias. É para celebrar este álbum que a cantora canadense vem ao Brasil para show neste mês. Aquele era o terceiro álbum dela. Alanis tinha lançado dois álbuns mais dançantes, em uma carreira de popstar infantojuvenil que durou entre 1987 e 1992.
Outra informação que surpreende muita gente é a ligação da cantora canadense de 49 anos com nomes então emergentes do rock. “You oughta know”, primeiro single, tinha o baixista Flea, do Red Hot Chili Peppers, e o guitarrista Dave Navarro, do Jane’s Addiction. A banda dela nas turnês contava com o baterista Taylor Hawkins, que depois integrou o Foo Fighters e morreu em 2022, aos 50 anos.
Foi a partir dessa fase mais livre e roqueira que Alanis deixou de se “censurar” quando ia escrever letras. “Quando eu era mais nova, com 20 e poucos anos, eu cruzava meus dedos quando ia lançar uma música”, contou ela ao g1, pouco depois de lançar “Such Pretty Forks in the Road”, seu álbum de pop rock mais recente.
“Quando escrevo uma música é como se eu estivesse escrevendo em um diário. Quando eu lanço, as pessoas fazem com que a música seja delas, podem interpretar do jeito que elas quiserem. Então, tecnicamente, elas nem são minhas mais.”
Na época de”Jagged Little Pill”, ela disse que tinha certo medo de lançar álbuns, porque associava a piora de sua saúde mental à música e à fama. Com o tempo, ela foi desfazendo essa associação. “Meu marido foi bem inspirador”, explicou, citando o rapper Mario “Souleye” Treadway, com quem está casada desde 2010 e teve três filhos.
“Eu o vejo fazendo música de um jeito que… ele só parece estar empolgado, apaixonado por aquilo. Ele não associa com nada que o intimida. Ele asssocia escrever canções com se expressar, com felicidade. Eu me inspiro pela forma com a qual ele vê a música… e também fiz muita terapia”, complementou, rindo. “Fiz para que a música fosse só esse veículo de expressão barulhento; e as partes da fama e da turnê fossem uma coisa separada.”
Capa do álbum ‘Jagged Little Pill’, de Alanis Morissette
Reprodução
Na atual turnê, Alanis inclui todas as 13 músicas de “Jagged Little Pill” no setlist. Como é continuar cantando músicas tão intensas por 28 anos nos palcos? “Elas me trazem os mesmos sentimentos de quando eu escrevi. Podem ser sobre medo, devastação, apreensão, arrependimento, o que for. Eu me sinto bem revivendo esses sentimentos no palco.”
Os arranjos dos shows tentam representar a mesma crueza das versões de estúdio. A maioria das músicas foi gravada em no máximo dois takes e pelo menos duas letras do disco foram escritas em pouco mais de uma hora: “Hand In My Pocket” e “Perfect”.
Em outra letra, a de “Head over feet”, Alanis ajudou a popularizar a expressão “friends with benefits” (“amizade colorida”, em tradução livre). Por ser uma gíria, fica difícil afirmar que ela tenha inventado o termo, mas o primeiro uso documentado é o da letra dessa música.
Alanis Morissette durante sua apresentação em São Paulo, em 2016, o primeiro dos oito shows no Brasil naquele ano
Caio Kenji/G1
O show com esse repertório rodou por festivais e ela dizia que os line-ups costumavam ser “bandas de homens e Alanis Morissette”. Para ela, os bastidores dos shows era “bem patriarcais”.
“O que eu fui percebendo é que eles não sabiam o que fazer comigo. Eles pensavam: ‘Podemos dormir com você? Ou você é a nossa irmã… ou nossa mãe?’ Eles não sabiam como curtir comigo, o que era constrangedor e um pouco solitário, mas também meio engraçado.”
Na segunda metade dos anos 90, Alanis foi a maior cantora do mundo e viveu o lado invasivo da fama. “Eu costumava ser alguém que observa as pessoas, eu ainda sou. Gosto de me sentar em um banco no parque, sabe? E aí, de repente, veio a fama e todo mundo virou os olhos para mim. Não eram mais dois humanos se encontrando. Era algo do tipo: ‘ah, eu tenho que conseguir alguma coisa dela’.”
“Então, isso acabou com minha chance de contemplar. Compreensivelmente, eu passei a me preservar mais. Eu ficava mais olhando para baixo. Eu evitava algumas coisas, evitava certas circunstâncias. Não era a minha parte favorita da fama, mas era uma estratégia de sobrevivência.”
Por que ‘Ironic’ não tem ironias?
Alanis Morissette no clipe de ‘Ironic’, do álbum de estreia, de 1995
Divulgação
Alanis ainda comentou as ironias de “Ironic”. A música é uma das que ela menos gosta, mas se tornou uma das mais ouvidas dela no streaming e a que os brasileiros mais gostam? “Hm… sim”, respondeu ela, rindo. “É irônico que não tenha ironias. É irônico que seja a música pela qual sou mais falada.”
Nos últimos anos, ela tem falado muito sobre a letra, levado com bom humor. Mas como foi ter que responder tanto sobre ela não ter ironias? “Ah, é desagradável ver meu erro analisado todos os dias, todos os anos, por 25 anos… em um caso de malapropismo [uso incorreto de uma palavra].”
“Mas quando Glen [Ballard, produtor do álbum] e eu escrevemos… foi a única música que eu e Glen escrevemos a letra juntos. A gente não estava, não estava ligando pra isso. A gente só estava se divertindo. Era tipo uma forma de se testar como compositores juntos. A gente amou a música, mas a letra não significava tanto assim. Depois de ‘Ironic’, eu passei a escrever todas as músicas eu mesma, todas super pessoais.”
Alanis Morissette
Divulgação
Nos tempos de “Jagged Little Pill”, Alanis foi chamada de ícone da raiva feminina. Na capa da “Rolling Stone”, posou ao lado do rótulo “uma mulher branca com raiva”. Embora simplista, ela disse que gosta do adjetivo “raivosa” para definir aquele momento da carreira.
“A raiva é tão linda e tem uma reputação tão ruim, porque quando a gente pensa na raiva, a gente pensa no lado destrutivo dela”, ela explicou.
“A gente pensa em armas, em guerra, em explosões, em brigas, sabe? Mas a raiva em si mesma é, na verdade, uma forma bonita de definir um limite, ou fazer uma mudança, ou ser ativista ou lutar por algo. É uma emoção tão linda. E por ser tão apaixonada, eu acho que a gente se assusta com o jeito que ela afeta o nosso corpo. Parece que a gente vai explodir, sabe? Se a gente consegue contê-la e transformar isso em palavra, não há um alívio maior para o corpo e para a alma.”
Alanis em São Paulo
Quando: 14 de novembro de 2023
Onde: Allianz Parque – Av. Francisco Matarazzo, 1705, Água Branca
Ingressos no site da Eventim
Valores:
Pista Premium: R$ 380 (meia)/R$ 760 (inteira)
Pista: R$ 275 (meia)/R$ 550 (inteira)
Cadeira inferior: R$ 320 (meia)/R$ 640 (inteira)
Cadeira superior: R$ 225 (meia)/R$ 450 (inteira)

Fonte: G1 Entretenimento