BOM DIA – Rascunho de outro grupo político diante do excesso de autoconfiança carlessista

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O governo Mauro Carlesse (PHS) vem se desgastando nesses primeiros 100 dias com crise profunda na saúde, brigas gratuitas com delegados da Polícia Civil e o necessário pacote de ajuste do Estado. Na verdade, deveria ter reservado o capital político para queimar somente com o último problema, já que as medidas de enxugamento são mais do que bem-vindas ainda que impopulares.

Por isso, poderia ter se poupado da refrega inoportuna iniciada com a exoneração dos 12 delegados regionais em novembro. Até ali, Carlesse vinha em céu de brigadeiro, em plena lua-de-mel com o cidadão. Sabe-se lá porque cargas d’água comprou essa briga descabida, com a desculpite de que se tratava de medidas de ajuste. Na saúde, a situação realmente não vai bem, e as reclamações e precariedade dos serviços se acumulam e já se tornaram até pauta semanal da grande mídia.

Com os excessos de testosterona que levaram o Palácio a iniciar brigas que poderiam ser evitadas com a política e de confiança, a ponto de ignorar o peso da bancada federal e outros aliados estratégicos, o governo estaria dando gás para que diversos agentes hábeis se unam

CLEBER TOLEDOÉ jornalista e editor do CT

No campo político, já existe uma crise silenciosa com a bancada federal. Ninguém vai sair dando tiro neste momento. Mas a insatisfação pode ser sentida em qualquer conversa com os congressistas. A reclamação é de que o Palácio Araguaia priorizou os deputados estaduais neste momento, ainda que a base na AL também lastime os compromissos assumidos lá na eleição da mesa diretora e não cumpridos até agora.

Em meio a toda essa sinfonia desafinada, já há quem arrisque a ver movimentações sutis que podem engendrar um novo grupo político a partir dessa somatória de insatisfações. Não para ser oposição a Carlesse neste momento, mas para se apresentar como alternativa num futuro também não tão distante. Por essa leitura, o senador Eduardo Gomes (MDB), muito insatisfeito e político dos mais hábeis do Estado, poderia ser o capitão de um novo time, que, por enquanto, só observaria o jogo, com mexidas pontuais, robustecendo-se em 2020 com dezenas de prefeitos, mas que só se posicionaria para valer em campo em 2022.

No tabuleiro, Carlesse agora se move com relativa paz. Tem domínio absoluto da Assembleia, onde os deputados reclamam na Sala VIP e, em plenário, votam como o governo quer. Na oposição, apenas o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB), um franco-atirador, desgastado, ainda perdido depois das derrotas de 2018 e que tenta se reencontrar disparando em qualquer alvo governista que se mova.

No entanto, com os excessos de testosterona que levaram o Palácio a iniciar brigas que poderiam ser evitadas com a política e ainda de confiança, a ponto de ignorar o peso da bancada federal e outros aliados estratégicos, o governo estaria dando gás para que diversos agentes hábeis se unam, articulem e passem a analisar junto o tabuleiro tendo movimentos futuros em vista.

Além de Gomes, outros políticos poderiam se somar ao time. A prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), que tenta e precisa aumentar sua musculatura, bem como seus colegas prefeitos de Gurupi, Laurez Moreira (PSDB), adversário de Carlesse desde 2012; e de Araguaína, Ronaldo Dimas (sem partido), que não estaria nem um pouco feliz com o Palácio e é muito próximo ao senador do MDB. A eles ainda poderia se juntar outro habilidoso articulador, que o carlessismo se dá ao luxo de deixar no banco de reversas, o deputado estadual Eduardo Siqueira Campos (DEM).

A junção desses players experientes, pacientes, com muito time e habilidade política teria efeito de nitroglicerina a médio e longo prazos aos projetos carlessistas. Ou não, claro. A depender de como o Palácio movimentará as peças.

O problema de estar no Poder é achar que quatro anos são eternos e, como consequência, perder a capacidade de olhar além do próprio umbigo. Aí quando se acorda já pode ser muito tarde.

CT, Palmas, 10 de abril de 2019.

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