Cemitério quilombola com mais de 100 anos de história é reconhecido como sítio arqueológico

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Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) homologou o pedido de reconhecimento do espaço preservado que fica Comunidade Quilombola do Rio Preto, em Lagoa do Tocantins. Túmulos de cemitério centeário eram construídos com pedras
Manoel Junior/Governo do Tocantins
A partir desta segunda-feira (13), Cemitério da Comunidade Quilombola do Rio Preto, no município de Lagoa do Tocantins, fará parte de uma área sob a proteção da União. Isso porque o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) homologou o pedido de reconhecimento do local como sítio arqueológico histórico.
O pedido foi feito pela Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais do Tocantins (Sepot) depois que a comunidade sofreu invasões e atos de violência, no fim de setembro deste ano. A região foi alvo de tiros e uma casa foi incendiada pelos autores. O motivo seria disputa de terras.
Equipes da Sepot e do Iphan estiveram na comunidade e um morador falou sobre a existência do cemitério centenário. Os técnicos, conforme a pasta, pediram para ver o local mas os moradores disseram que não podiam ir até lá porque tinham medo das ameaças que sofreram.
Cemitério de 100 anos guarda corpos de descendentes de escravos, no Tocantins
Manoel Junior/Governo do Tocantins
Mesmo assim as equipes foram ao local e encontraram diversos jazigos de pedra feitos à mão. “A precisão da arte que eles fizeram com carinho e respeito ao seu ente que faleceu, junto às datas cravadas nas lápides, foi fundamental”, explicou a especialista em georreferenciamento da Sepot, Lorayne Ferreira.
Com a descoberta do local de descanso secular, a secretaria entrou com o pedido de reconhecimento de sítio arqueológico junto ao Iphan. A homologação foi divulgada nesta segunda-feira.
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Lápides que atravessaram o século
Segundo o arqueólogo do Iphan, Rômulo Macêdo Barreto de Negreiros, as lápides de pedra possuem diversas datas. Entretanto as mais antigas são do ano de 1919, ou seja, pessoas descendente de escravizados que morreram há 104 anos.
Além do achado, o arqueólogo afirmou também podem estar sepultados no cemitério quilombola os próprios escravizados ou sobreviventes do período de escravidão no Brasil.
O especialista também explicou que o relatório técnico para o reconhecimento do cemitério enquanto sítio arqueológico levou em consideração a memória da comunidade quilombola do Rio Preto. “O Campo Santo do Bom Jardim é excepcional no contexto dos cemitérios rurais do Tocantins. Ele apresenta uma variedade de tipos de lápides que, provavelmente, refletem as relações sociais dos quilombolas ao longo dos últimos cem anos”.
Cemitério conhecido como Campo Santo fica em uma comunidade quilombola, em Lagoa do Tocantins
Manoel Junior/Governo do Tocantins
A partir de agora, quem provocar danos no cemitério poderá responder por crime ambiental. O reconhecimento também vai assegurar o desenvolvimento de ações voltadas para a proteção e promoção do local, garantiu o arqueólogo.
A Sepot destacou ainda que o reconhecimento da Comunidade de Rio Preto como quilombola pela Fundação Cultural Palmares levou três meses e o certificado se entregue à comunidade no dia 23 de novembro.
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Fonte: G1 Tocantins