Ode aos loucos feita por Silvio Brito, ‘Espelho mágico’ é o achado de repertório redundante por incluir três frevos de Caetano Veloso em dez músicas. Capa do álbum ‘ Brutal brega – MPB mode’, de João Gordo
Arte de Wagner Loud
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Brutal brega – MPB mode
Artista: João Gordo
Cotação: ★ ★ 1/2
♪ Em maio, quando João Gordo lançou o primeiro single da sequência do álbum Brutal brega (2022), com repertório selecionado no universo da MPB, ficou a impressão de que tinha se perdido a graça da brincadeira de cantar músicas sentimentais com a fúria, o peso e o sentimento do punk hardcore como no disco de 2022.
A impressão deixada seis meses atrás com a releitura do baião-soul Coroné Antonio Bento (João do Vale e Luiz Wanderley, 1970) se torna certeza com a edição do álbum Brutal brega – MPB mode, no mundo desde ontem, 22 de novembro, em edição digital e em CD.
Fica difícil encontrar um sentido para abordagens punks de músicas como A filha da Chiquita Bacana (Caetano Veloso, 1975), Atrás do trio elétrico (Caetano Veloso, 1969), Cavaleiro de Aruanda (Tony Osanah, 1972) – sucesso de Ronnie Von que Rita Benneditto jogou na pista com o show Tecnomacumba (2003 / 2024) – e Um frevo novo (Caetano Veloso, 1977). Foi-se a espirituosidade do álbum original de 2022.
Sem falar que nada justifica as presenças de três (!) frevos de Caetano Veloso entre as 10 músicas. Soa inevitavelmente redundante!
Com boa vontade, pode-se dizer que Galos, noites e quintais (Belchior, 1976) caiu bem no universo punk porque a letra é um brado de resistência contra a opressão. Da mesma forma, a ira punk também se afina contra o protesto ambiental feito na letra de Sobradinho (Luiz Carlos Sá e Guarabyra, 1977).
Contudo, ao acionar o modo MPB do álbum Brutal brega, a maior sacada de João Gordo foi pescar a pérola Espelho mágico (Silvio Brito, Luis Vagner e Tom Gomes, 1975), ode aos loucos que ganhou as paradas nacionais há quase 50 anos na voz do cantor Silvio Brito. Espelho mágico é um achado, até porque a música nunca foi regravada desde 1975 (há somente um registro feito pelo grupo Os Motokas logo após a gravação de Brito para pegar carona no sucesso do cantor).
Já o coco Sebastiana (Rosil Cavalcanti, 1953) perde o ar maroto da gravação antológica de Jackson do Pandeiro (1919 – 1982) assim como se esvai toda a sensualidade de Tropicana (Alceu Valença e Vicente Barreto, 1982) no tom punk do artista.
Enfim, se for levar adiante a brincadeira feita com eficiente produção musical de Val Santos, João Gordo deveria acionar novamente o modo brega do gracioso projeto.
Fonte: G1 Entretenimento