Família encontrou dinheiro do século passado em uma mala após a morte do pai, em Araguaína. Dinheiro não tem valor atualmente, mas equivaleria a R$ 23,6 milhões se pudesse ser atualizado pela inflação, diz economista. Cédulas de Cruzados danificadas perderam valor aos olhos dos colecionadores
Reprodução/TV Anhanguera
Após a morte do Paulo Abreu, aos 77 anos, os filhos encontraram uma ‘fortuna’ escondida dentro de uma mala na casa do idoso. Mas, para a tristeza deles, se tratavam de cédulas de Cruzados, moeda que não tem mais valor nos dias atuais. Os 32 milhões estão guardados com o técnico de manutenção Waloar Pereira Magalhães, um dos filhos do idoso.
Veja o que se sabe sobre a história dessa ‘herança’ descoberta pelos irmãos.
Quem era Paulo Abreu
De acordo com Waloar, Paulo Abreu teve várias ocupações ao longo da vida. Trabalhou como garimpeiro, dentista e, por último, construía casas em Araguaína para vender. O filho contou que ele não era de gastar muito dinheiro. O patriarca morreu em 2012, aos 77 anos, em Araguaína.
“Ele foi dentista por 30 anos. E aqui ele teve muita casa. Ele só fazia uma, vendia, fazia outra, vendia. Aqui na região do centro mesmo, até hoje mora meu irmão numa casa que ele deixou”, explicou Waloar.
Mala de dinheiro e garrafa com moedas
Poucos dias depois da morte do pai, Waloar e os irmãos entraram na casa dele e encontraram a mala recheada de cruzados. Ao todo havia 32 milhões de um dinheiro que não poderia mais ser usado e nem trocado, pois deixou de ser usado no início de 1989.
Além das notas, Paulo também acumulava moedas antigas em uma garrafa, mas esse dinheiro os filhos sabiam da existência.
Waloar Pereira Valadares mostra Cruzados que encontrou em mala após morte do pai
Reprodução/TV Anhanguera
“As moedas, ele botava em um vidro aberto, todo mundo via dentro de casa. Tem até moeda de duzentos réis, de quatrocentos réis. Toda moeda que ele trazia da rua, jogava lá dentro. Moeda velha, moeda antiga. Papai é de 1937. As moedas, nós sabíamos, mas o dinheiro [de papel], não”.
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Anos guardando ‘herança’
Após a descoberta da ‘herança’, Waloar conta que guardou o dinheiro do pai por cerca de 12 anos. Ele disse que resolveu tentar vendê-las depois que viu uma reportagem falando sobre moedas antigas.
Paulo Abreu não confiava em bancos
Segundo o filho, o motivo do pai ter tanto dinheiro guardado é porque, quando ficou mais velho, deixou de confiar e usar os serviços bancários. Por isso, Paulo Abreu passou a guardar seu dinheiro em uma ‘poupança física’ durante anos, segundo a família.
“O papai já era uma pessoa idosa e não quis mais mexer com o banco, né? Mas nós não sabíamos que ele guardava daquele tanto [de dinheiro], não”, contou Waloar.
Cruzado saiu de circulação na década de 1980
O Cruzado circulou no Brasil entre 1986 e 1989. Depois do Cruzado, vieram o Cruzado Novo (1989-1990), o Cruzeiro (1990-1993), o Cruzeiro Real (1993-1994) e o Real, a partir de 1994.
Segundo o Banco Central, o prazo de recolhimento dos Cruzados se encerrou em 31/07/1989 para as cédulas de Cz$ 1 e Cz$ 5 e em 30/09/1989 para as cédulas de Cz$ 10, Cz$ 50 e Cz$ 100. Ou seja, não é mais possível converter em real a moeda antiga.
Herança valeria R$ 23,6 milhões
Calcular quanto a fortuna valeria atualmente não é fácil, mas dá para ter uma base. De acordo com o conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e mestre pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, Eduardo Araújo, essa ‘fortuna’ valeria em torno de R$ 23,6 milhões se fosse atualizada pela inflação acumulada entre 1990 e 2024.
O cálculo foi feito a partir do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e serve apenas para fins de comparação, pois atualmente a “fortuna” não possui valor financeiro oficial.
Cédulas de Cruzados herdadas pelos irmãos Valadares, em Araguaína
Reprodução/TV Anhanguera
“Considerando que o Brasil passou por diversos planos econômicos, o valor atualizado representa uma estimativa do que seria necessário hoje para preservar o poder de compra original daquele montante, corrigido apenas pela variação de preços ao longo dos anos”, explicou o conselheiro.
Se o dinheiro tivesse sido trocado quando novas moedas surgiram e investido em uma instituição financeira, o valor da fortuna seria bem maior, afirmou Eduardo.
Valor na época
Outro caminho para avaliar o valor da fortuna seria com base na realidade da época. O colecionador Rafael Augusto, membro da Sociedade Numismática Brasileira (SNB) e proprietário de um site de leilões, avaliou o tamanho da fortuna.
Segundo ele, o dinheiro daria para comprar pelo menos oito casas em 1988. “Vamos assumir como base o final do plano Cruzado (dezembro de 1988), de acordo com um anúncio no Jornal do Brasil de 28 de dezembro de 1988 era possível comprar uma casa de madeira com 2 quartos, sala, cozinha e banheiro, feita sob encomenda, pelo equivalente a 3.890.000 de Cruzados. Portanto os 32 milhões de cruzados, em tese, comprariam oito casas dessas e ainda sobraria troco”, explicou.
Outro caminho para avaliar o valor da fortuna seria com base no salário dos trabalhadores. “Com base no salário mínimo da época (40.425 Cruzados), ele tinha aproximadamente pouco mais de 791 salários mínimos.”
O cálculo feito pelo especialista utiliza o salário mínimo que vigorava no início de dezembro 1988, no último ano de circulação dos Cruzados. Durante este mesmo ano, a moeda e o salário variaram bastante.
Futuro da ‘herança’
Infelizmente, as moedas e notas não possuem um valor alto no mercado. “Para colecionadores, que revenderiam a grande maioria das peças ou para artesãos ou para desmanche do metal, o valor aproximado de todo esse achado seria na faixa de 10 a 20 centavos por cada nota, e 10 a 20 reais o quilo das moedas”, explicou Rafael Augusto.
Mas Waloar e os irmãos têm esperança de conseguir vender a herança do pai a colecionadores.
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Fonte: G1 Tocantins